segunda-feira, 2 de março de 2009

A palavra que dá fruto

* Patrus Ananias

A informação, pré-requisito para o êxito de qualquer política pública, tem sido uma das principais ferramentas para dar sustentação vigorosa a nossa política de segurança alimentar. Se essa já era uma convicção construída ao longo do nosso processo de formação política, temos tido a oportunidade de colocar esse conceito à prova através de nossos programas de educação alimentar, onde podemos destacar o Cozinha Brasil, importante parceria que implementamos no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome com o Conselho Nacional do Sesi e empresários do setor industrial.

O programa trabalha com a perspectiva de rede para disseminar e praticar o conceito de segurança alimentar, de promoção de alimentação boa e barata. São 27 caminhões equipados com cozinhas pedagógicas que estão sendo encaminhados aos governos dos Estados e do Distrito Federal para percorrerem, de acordo com uma programação prévia, localidades de difícil acesso para promover cursos de formação e capacitação de educadores alimentares junto às comunidades. Estamos na segunda fase de implantação do programa e até o final do ano todas as unidades da federação estarão equipadas com as unidades móveis. Além do caminhão itinerante, Sesi e Senai oferecem espaços para desenvolver atividades para treinar e dar cursos de educação alimentar.

Dentre outros objetivos, o Cozinha Brasil tem conseguido introduzir nas comunidades atendidas novos hábitos alimentares, apresentando técnicas de conservação e aproveitamento de alimentos, mostrando possibilidades de aproveitamento de alimentos altamente nutritivos mas que, culturalmente, estamos acostumados a jogar no lixo, como talos e cascas. Com isso, torna-se também um instrumento de combate ao desperdício, essa face do triste paradoxo bem ilustrado pelo histórico documentário “Ilha das Flores”, produzido por Jorge Furtado, em 1989: a produção de um lixo rico enquanto uma parcela da população enfrenta dificuldades severas para ter acesso a uma alimentação de qualidade com regularidade necessária.

A redução do desperdício, a médio e longo prazos, promove uma queda no custo dos alimentos vendidos. A curto prazo, as informações disseminadas pelas unidades do Cozinha Brasil estimulam a busca por alternativas mais baratas, o aproveitamento dos recursos disponíveis em cada localidade.

O Ministério investiu R$ 3,3 milhões do total de R$ 5 milhões, que é o orçamento global do projeto. A meta é capacitar, treinar diretamente 124 mil pessoas até o final de 2006, incluindo 17,8 mil educadores na área de educação e segurança alimentar. Mas não podemos esquecer que o programa estabelece uma ampla rede de comunicação, formam-se núcleos disseminadores no interior das famílias e o número de beneficiários indiretos pode ser muito maior. É o poder da palavra que, quando cai em terra fértil, multiplica-se e dá frutos cem por um, como nos ensina o Evangelho e foi muito bem interpretado por Padre Vieira.

No curso, todo conhecimento transmitido aos alunos considera os aspectos culturais relacionados à culinária de cada região, estimulando o aproveitamento de recursos naturais locais. Com isso, favorece a geração de emprego e promove a melhoria da renda familiar. Esse programa desenvolve uma corrente importante do Fome Zero, que é criar condições para exercício prático do conceito de segurança alimentar através de um processo de educação e mobilização popular.

No Cozinha Brasil, um dos objetivos é fazer com que as famílias descubram as muitas possibilidades que elas têm à mão para melhorar a qualidade da alimentação. As lições têm um foco também na ação comunitária, promovendo e estimulando a troca de experiência, a busca por alternativas de acesso a alimentos através de soluções coletivas, como criação de hortas e cozinhas comunitárias. É um programa de educação alimentar, combate ao desperdício, combate à desnutrição e, principalmente, de estímulo à promoção pessoal, cultural, econômica e social dos cidadãos. É também um processo de qualificação pessoal, de compartilhamento da informação para ação, da informação que tem capacidade de mudar a realidade das pessoas. Afinal, essa é uma característica que nos torna humanos. A capacidade de mudar a realidade é talvez uma das melhores virtudes que desenvolvemos ao explorar a potencialidade de nosso “telencéfalo desenvolvido” e do nosso “polegar opositor”, os traços que nos diferenciam dos demais mamíferos, como nos lembra Jorge Furtado.

* Patrus Ananias é Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
* Artigo publicado originalmente no Jornal O Liberal (PA) em 05/05/2005

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